OBJECTIVO
Este website, realizado no
âmbito da cadeira de Auriculoterapia I, tem por objectivo o
poder aprofundar os conhecimentos de auriculoterapia na perspectiva
ocidental, concretamente segundo a escola francesa que, através dos
estudos dedicados e meticulosos do seu principal investigador, Dr.
Paul Nogier, impulsionou decisivamente o evoluir desta ciência.
O interesse deste trabalho é o de
poder divulgar aos colegas da disciplina, de uma forma clara e
prática, o conhecimento de um conjunto simplificado de pontos
auriculares (30), ainda hoje utilizados, que lhes poderão permitir
iniciar-se nas práticas terapêuticas.
Os mapas e páginas interactivas
aqui apresentadas permitem ao
formando adquirir conhecimentos da anatomia auricular, localização
dos pontos auriculares e sua função, bem como a oportunidade de
testar os seus conhecimentos (Teste o
que sabe!)
INTRODUÇÃO
A história da medicina, por mais que se remonte o seu
curso, apresenta traços de práticas que se podem assemelhar a uma
auriculoterapia rudimentar, desde a China antiga, Egipto, Europa na
Idade Média, até que no início da década de 50 do séc. XX,
o Dr. Paul Nogier recebia no seu consultório
pacientes que apresentavam uma cauterização na orelha feita por uma
curandeira de Marselha, com o propósito de aliviar as dores causadas
por uma nevralgia ciática.
O ponto cauterizado localiza-se no terço central do
ramo inferior da anti-hélice, no ponto hoje denominado
ciático.
Apesar de usar nos seus pacientes o mesmo procedimento e obter um
resultado favorável, só após anos de estudos o Dr. Nogier associou
este ponto à quinta vértebra lombar. Conseguiu correlacionar a
anti-hélice com a imagem da coluna vertebral, cujas partes estavam
invertidas, as vértebras lombares em cima e as cervicais em baixo.
Aí nasceu a ideia de que todo o pavilhão auricular representaria a
imagem de um feto no útero materno. Estava a nascer a Teoria do Feto
Invertido que revolucionou o desenvolvimento da Auriculoterapia.
Figura 1 – A Teoria do Feto
Invertido
(Bontempo, 1999)
A Escola
Francesa de Auriculoterapia não tem nenhuma relação com as teorias
da Medicina Tradicional Chinesa. A Escola Francesa está associada ao
desenvolvimento dos 3 folhetos embrionários na formação do ser
humano, os quais vão dar origem aos diferentes tecidos, órgãos,
sistemas, aparelhos do corpo humano. Através de estudos e pesquisas,
o Dr. Nogier associou a endoderme, a mesoderme e a ectoderme a
diferentes partes da orelha externa.
A
endoderme, camada interna do folheto embrionário, dá origem às vias
aéreas superiores e pulmões, diafragma, estômago, vesícula biliar,
pâncreas, fígado, intestino e bexiga. Segundo Dr. Nogier os pontos
reflexos dos órgãos de origem endodérmica estão localizados
exclusivamente na concha da orelha externa (hemiconcha inferior ou
concha cava e hemiconcha superior ou concha cimba). Os rins e o
coração por terem origem na mesoderme, não têm os seus pontos
incluídos, como na escola chinesa.
A
mesoderme, camada intermediária do folheto embrionário, dá origem à
derme, músculos incluindo o coração, esqueleto, crânio, órgãos
genitais e rins. Segundo o Dr. Nogier, todos eles se distribuem na
raiz ou ramo da hélice, na anti-hélice e no antítrago.
A
ectoderme, camada externa do folheto embrionário, dá origem ao
sistema nervoso central encéfalo, tronco cerebral, medula e
periféricos, à epiderme e seus anexos (pêlos, unhas, glândulas). Os
pontos reflexos relacionados com estas partes do corpo estão
localizados na parte inferior da hélice (do tubérculo de Darwin até
o final da hélice), no lóbulo e no trago.
ANATOMIA DO PAVILHÃO AURICULAR e
NOMENCLATURA ANATÓMICA
O
pavilhão auricular possui formato oval, com a extremidade maior
voltada para cima e a superfície lateral levemente côncava e
inclinada para frente. Está localizado nos dois lados da cabeça,
posteriormente à articulação temporomandibular (ATM) e à região
parotídea, anterior à região mastóide e abaixo da temporal.
O pavilhão auricular é formado de tecido fibrocartilaginoso,
ligamentos, músculos e tecido adiposo. A parte inferior do pavilhão
é rica em vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Já o terço superior
é formado essencialmente por cartilagem. O lóbulo da orelha
apresenta, na maior parte de sua constituição, tecido adiposo e
conjuntivo.
O
sistema sanguíneo da orelha é abundante, sendo o suprimento arterial
realizado principalmente através da artéria temporal superficial,
auricular posterior e da carótida externa. As veias acompanham as
artérias e possuem a mesma designação, com excepção da veia jugular
posterior que drena as áreas irrigadas pela artéria carótida.
Os vasos linfáticos da face
anterior desaguam nos gânglios linfáticos da parótida e muitos dos
vasos linfáticos da face posterior desembocam em linfonodos retro
auriculares.
A inervação do pavilhão auricular é muito rica. Podemos dividir a
estrutura nervosa em duas partes principais:
-
Nervo espinal
(auricular maior e occipital menor) que se encontram mais
localizados no lóbulo, na hélice, fossa escafóide e anti-hélice.
-
Nervos
cerebrais (auriculotemporal e vago), que se encontram mais nas
conchas.
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Segundo Souza (1994) cada orelha
possui uma inervação de vinte ramos nervosos terminais (16 nervos
sensoriais (aferentes) que recebem sinais vindos dos órgãos dos
sentidos e 4 nervos motores (eferentes), cujos axónios
terminam todos em fibras musculares e estimulam a contracção) e que
esses nervos, quando estimulados, sensibilizam regiões do cérebro.
Os pontos presentes na superfície da orelha têm relação directa com
determinados pontos do cérebro, que por sua vez estão directamente
ligados pela rede do sistema nervoso a determinados órgãos ou
regiões do corpo, comandando suas respectivas funções. Tendo em
vista a relação aurícula-cérebro-órgão, a auriculoterapia
torna-se um eficaz recurso terapêutico para tratar as mais diversas
enfermidades.
"Um estímulo
periférico sobre a malha de corrente sanguínea e nervosa
transmite-se ao tálamo e deste ao cerebelo, ao tronco cerebral, ao
encéfalo e a todos os núcleos cerebrais, nascendo, daí, a acção do
cérebro sobre todo o organismo que, como feedback, se equilibra e se
regenera"
(Souza, 1994).
O pavilhão auricular apresenta
várias depressões e saliências cartilaginosas. Nas partes mais
profundas estão localizados pontos relacionados com os órgãos
internos e as partes salientes apresentam pontos que se relacionam
principalmente com as estruturas ósseas do corpo.
O
pavilhão auricular é observado
nas suas duas faces
-
Face externa ou anterior:
face visível, quase paralela à parte do crânio sobre a qual está
inserida. Nesta face podemos reconhecer as seguintes estruturas:
Hélice, Raiz da Hélice, Tubérculo
Auricular (ou tubérculo de Darwin), Anti-Hélice, raiz superior
da Anti-Hélice, raiz inferior da Anti-Hélice, Fossa Triangular,
Fossa Escafóide, Trago, Anti-trago, Incisura Intertrágica ,
Incisura Supratrágica Lóbulo, Concha Cimba (ou hemiconcha
superior) e Concha Cava (ou hemiconcha inferior).
-
Face interna ou posterior.
Face escondida, de frente para a região mastóide, também
apelidada de parte rectroauricular do pavilhão. É constituída
por 3 faces dorsais – Hélice, Lóbulo e região entre a
Fossa Escafóide e Lóbulo, 4 sulcos - Anti-Hélice, raiz
inferior da Anti-Hélice, Raiz da Hélice e Antitrago, 4
proeminências – Fossa Escafóide, Fossa Triangular, Concha
Cimba e Concha Cava.
OS PONTOS AURICULARES
A
cada ponto da orelha corresponde uma região periférica precisa,
limitada, no plano espacial, do ponto de vista histológico. Esta
região, aquando de uma alteração patológica pode dar sintomas
locais, regionais ou gerais que o fisiologista frequentemente não
explica.
Para a escola francesa, cuja linha de actuação se fundamenta na
Teoria dos Reflexos, o sistema de pontos auriculares reflexos é um
“sistema flutuante”, onde os pontos não são fixos e só se reflectem
na orelha quando existe um distúrbio correspondente. Já na
auriculoterapia praticada pela escola chinesa, é levada em conta a
influência dos meridianos que passam próximos à orelha, pratica-se
rotineiramente a tonificação e a sedação dos pontos auriculares, mas
dificilmente se fala em “pontos mudando de lugar”.
Segundo a teoria de Paul Nogier, o conhecimento aprofundado do
pavilhão da orelha como ponto-reflexo permite distinguir dois tipos
de pontos auriculares.
Os
primeiros, chamados “pontos de comando de órgãos”
(vulgo “pontos de órgãos”) correspondem às zonas
reflexas de determinado órgão, víscera, músculo, glândula, etc.,
sendo a sua acção nitidamente local. Com o auxílio da imagem fetal
auricular, observam-se alguns pontos de correspondência, precisos,
localizados, específicos. Cada um dos pontos de órgãos tem um nome
que exprime a sua acção principal (serão equivalentes aos “pontos de
zona correspondentes”, embora não haja em certos casos, coincidência
de nomenclatura, nem da sua localização).
Os
segundos, denominados “pontos-guia” têm uma
acção de carácter geral, podendo intervir numa parte do organismo ou
numa função. Não têm correspondência somatotópica. Para isolá-los é
preciso apoiar-se na forma e nos relevos do pavilhão e não na
cartografia reflexa. Sua acção é vasta, agindo sobre uma região da
orelha e, portanto, do corpo, mas também sobre as funções e reacções
do paciente. A actividade dos pontos-guia pode não só completar o
tratamento dos pontos de órgãos, mas ainda permitir que estes sejam
eficazes quando estimulados. São equivalentes aos “pontos
funcionais” (classificação da escola chinesa).
Actualmente a escola francesa baseia o seu trabalho no tratamento de
pacientes por Auriculoterapia em 57 pontos auriculares.
O
trabalho agora apresentado tem por base a selecção, efectuada pelo
Dr. Paul Nogier, de 30 pontos auriculares, que serão os necessários
e suficientes para que o terapeuta (ainda) principiante possa obter
bons resultados nos seus tratamentos. Vai ser possível observar e
apreender o nome, localização e função de 15 pontos de órgãos
(numerados de 1 a 15) e de 15 pontos-guia (numerados de 16 a
30)
A
escolha dos pontos e o conhecimento das suas propriedades tem por
base anos de observação clínica e de experimentação científica; são
na realidade pontos-chave extremamente preciosos, que foram testados
vezes sem conta.
Além disso, o terapeuta principiante tem dificuldade em ver
claramente no meio da floresta de pontos que alguns autores
apresentam nos seus tratados.
“Aqui, o que é precioso é que a
simplicidade se pode aliar à eficácia.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bontempo, M., 1999.
Medicina natural. Editora Nova Cultural, São Paulo.
García, E. G., 1999.
Auriculoterapia. Editora Roca Lda., São Paulo, 445 pp.
Malta, J., 2007. Manual de
Estudos de Auriculoterapia I, 53 pp.
Nogier, P. M. F., 1998.
Noções Práticas de Auriculoterapia. Editora Andrei, 168 pp.
Souza, M. P.,
1994. Tratado de Auriculoterapia. Editora Look,
Brasília.
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